De pequenino... se aprende a gerir



Os meus pais sempre foram pessoas poupadas.
O meu pai, lamento dizer, chegou a extremos que não aconselho a ninguém! Nunca deixou que me faltasse nada, mas foram mais que muitas as vezes em que o dinheiro que investiu "em mim" era atirado em cara...
E isso fez com que eu desenvolvesse ao longo dos anos uma relação de amor-ódio ao dinheiro.

Gosto dele porque suprime as minhas necessidades, mas recuso-me a ser escrava dele. Se me esforço para o ganhar, também tenho que reservar uma parte para me divertir e ser feliz, tenho que o usar em coisas e actividades que me tragam felicidade.

Foi ainda na adolescência que decidi que um dia, quando fosse mãe, iria incutir nos meus filhos uma relação saudável com o dinheiro.

Quando efectivamente fui mãe, escusado será dizer que falhei em primeira instância... a páginas tantas dei por mim a comprar prendas e brinquedos ao meu filho de forma aleatória e amiúde.

A tal ponto que ele, como pouco mais de 5 anos, começou a achar que era normal e habitual eu gastar 3/5/8/10€ num brinquedo sempre que íamos às compras ao hipermercado, por exemplo.

Comecei a aperceber-me que ele não tinha noção do valor das coisas e que invariavelmente o carrinho ou os cromos ou os Lego que lhe comprava, eram facilmente ignorados e rapidamente postos de parte quando chegávamos a casa, e ele queria simplesmente "partir para a próxima aquisição"...

Ora não era nada disto que eu lhe queria ensinar e incutir!
Ele tinha que perceber que o dinheiro não cai do céu, não nos vem parar ao bolso de mão beijada e que por vezes, temos que saber poupar ou investir de forma sensata.

Por isso, tomei a decisão de lhe passar a dar um valor fixo semanalmente, assim que ele ingressasse no ensino básico.
Expliquei-lhe de antemão que iria passar a dar-lhe 2€ de semanada, assim que começasse a escola. Mas... que a partir desse momento, eu deixava de lhe comprar carrinhos, cromos, bonecos, gelados, etc.
Se ele quisesse comprar, poderia fazê-lo com o dinheiro que eu lhe dava da semanada.

Não só foi uma forma de acabar com o "mãe, compra-me isto! E mais aquilo!..." nas idas ao supermercado, como foi o mecanismo que usei para o começar a educar na gestão de dinheiro.

Porque as crianças devem aprender desde cedo a mexer em dinheiro, a perceber que ele não cai do céu e a definir prioridades no que diz respeito a gastar o dinheiro que têm disponível. Não só permite familiarizar as crianças com o dinheiro (a reconhecer as diferentes moedas e notas e também contribuiu para o ensino da matemática), como lhes incute um certo sentido de responsabilidade e de priorização. Ao mesmo tempo ajuda-os a fazer escolhas, num mundo actual de oferta ilimitada de produtos de consumo.

E se ao início, ele quis esbanjar praticamente todo o dinheiro da semanada, após as primeiras semanas, percebeu que as coisas que queria realmente custavam dinheiro que ele não tinha e sabia que não adiantava pedir-me para comprar, porque a resposta era invariavelmente negativa e como tal tinha que ir juntando.

Actualmente, o dinheiro que lhe dou, ele tem ido juntando. Se acaso vamos ao supermercado ou a uma loja, e ele encontra algo que quer comprar e para o qual tem dinheiro, eu compro (porque ele não leva a carteira) e quando chegamos a casa ele "paga-me o dinheiro de volta".

O que acho mais curioso é que ele sabe exactamente o dinheiro que tem, ao cêntimo, e sabe quanto gastou e no quê. E já vai percebendo que há coisas que "custam muito dinheiro"...

Só espero é que ele não se torne num Tio Patinhas (à semelhança do meu pai...)

E vós por aí, ensinam os vossos filhos a gerir o dinheiro?




2 comentários:

  1. Olá Naná! Ensinar os filhos na gestão reflectida do uso do dinheiro é essencial, sem dúvida, e já começas a ver os resultados na forma como o teu filhote lida com o seu dinheiro ;)
    No que respeita aos meus filhos, para mim sempre houve uma regra essencial, nunca deixei que os miúdos afirmassem "eu quero!", nunca nenhum dos meus filhos usou a expressão, e é claro que nós também nunca perguntámos "queres isto ou aquilo...?" mas sempre "gostavas de...?". Resumindo, os miúdos só "gostavam de...", sendo que o próprio verbo implica uma reflexão, um mas, acerca desse "desejo" que se sente em possuir seja lá o que for; mas será que me faz mesmo falta, mas será que vale a pena, mas e se gasto nisto vou deixar de ter para aquilo, etc. É diferente "querer ter" de "gostar de ter", esta última obriga a fazer escolhas, a tomar decisões, a pensar. Para mim, foi e continua a ser regra número um. Depois disto, tudo se torna mais fácil, é quase inato. Sempre que lhes passa pela cabeça a aquisição de algo, nunca o fazem por impulso e até ao momento têm sido bastante racionais e moderados com os seus mealheiros.

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  2. A minha está quase com 6 e estou a pensar em dar-lhe uma semana quando entrar na primária. Desde pequenina que tem mealheiro, mas somos nós que compramos o que pede. Felizmente tem noção que custa ganhar dinheiro, e que não se pode comprar tudo. Em 2015 com 4 anos, no natal, juntou dinheiro para a Barbie rock star porque já lhe tinhamos comprado a prenda. aos poucos vamos ensinando.

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